Além das características comuns que envolvem o projeto de uma casa na praia, como beleza, conforto, versatilidade e integração à paisagem, às vezes, construir em um lugar peculiar como Ilhabela requer a superação de desafios como a preservação de terrenos repletos de pedras e vegetação, o encaixe das construções às topografias acidentadas e até a dificuldade de acesso, como no caso dos locais onde só é possível chegar pelo mar.

Neste projeto, o arquiteto Reinaldo Silva Junior venceu todos estes desafios e mais alguns, ao aceitar a proposta de construir uma casa sustentável, que preservasse toda a simplicidade característica do local, sem causar impactos ambientais e proporcionando aos proprietários um local de descanso e contato com a natureza.

“Quando fui consultado para fazer o projeto desta casa, me senti como se fosse a primeira obra da minha vida! Uma experiência diferente de tudo que já havia feito. O cliente queria uma casa sustentável, integrada à paisagem, que não chamasse a atenção de quem passa pelo mar. Simplicidade combinada com o lugar e com as pessoas que habitam a região, em um local para descanso e contato com a natureza”, conta Reinaldo. “Até aí, sem problemas, mas a localização, sem acesso terrestre, só por mar, foi o grande desafio”, completa.

Depois de fazer um reconhecimento do local, Reinaldo notou que a maioria das casas dos caiçaras é feita de pau a pique e decidiu empregar a técnica em seu projeto. Dessa forma, atenderia o fator simplicidade e aproveitaria a matéria prima local, bambu e terra. “Convidei para me auxiliar nessa empreitada o arquiteto Alain Mantchev, que acabava de retornar de uma pós-graduação em arquitetura da terra em Grenoble, na França. Avaliamos o terreno e optamos em fazer a casa suspensa, usando estrutura de eucalipto tratado, por que esse material seria mais fácil de transportar por barco, deixaria a casa mais arejada e seca e o terreno totalmente permeável”, explica.

Para as fundações e arrimos foi aproveitada a grande quantidade de pedras do local, assentadas com solo-cimento. As esquadrias foram garimpadas em depósitos de materiais de demolição, painéis solares abastecem a iluminação e a geladeira (não há rede de energia elétrica) e foi instalada uma Estação de Tratamento de Esgoto que irriga a vegetação do terreno com seus efluentes.

Reinaldo também conseguiu recrutar mão-de-obra local e formar uma equipe competente, que mesmo com o alto grau de dificuldade nos deslocamentos do pessoal e dos materiais e da falta de conforto, se manteve motivada pela possibilidade de fazer um projeto diferente, especial.

“O que nos deu muita força foi o entusiasmo do cliente, que a cada visita à obra se integrava aos moradores locais, vibrava e nos ajudava a procurar materiais que não agredissem o meio ambiente. Ele considera que essa obra possa servir de exemplo aos moradores da região, no que se refere a saneamento e aproveitamento de energias renováveis”, completa.

Hoje, já usufruindo de seu refúgio, o proprietário da casa está ajudando os adultos a se alfabetizarem e implantando um projeto de Maricultura, com a criação de mariscos, dando mais dignidade aos moradores daquela comunidade.

 

 

 

Entre rochas e a paisagem

Debruçada sobre um cenário de beleza ímpar, esta casa mostra as amplas possibilidades para a criação de ambientes que se apropriam da qualidade da paisagem dos espaços externos, como elemento de valorização dos espaços interiores à edificação.

Desde os momentos iniciais de concepção, foi se estabelecendo um programa desafiador – garantir a presença da deslumbrante paisagem, em todos os espaços da casa – o que acabaria por nortear todo o projeto de intervenção; e ao mesmo tempo, transformar uma casa de espaços comedidos, construída com materiais rústicos, em outra, mais ampla, adequada às demandas e ao estilo de vida de seus novos ocupantes.

Desafios que se ampliavam ante as dificuldades impostas pelo terreno marcado por fortes limitações físicas – estreito, íngreme e entremeado por gigantescos blocos de rocha.

Facilitando a tarefa, a possibilidade de realizar, desde o primeiro momento, um trabalho integrado: o projeto de arquitetura, de interiores e de paisagismo, o planejamento e a execução da reforma puderam ser pensados de forma conjunta, num processo que favoreceu a concepção de soluções adequadas aos anseios dos proprietários.

Desde sempre, ficou claro que a paisagem se configuraria na principal protagonista no projeto de reforma, afinal fora ela quem primeiro chamou a atenção dos proprietários. Mais que uma reforma, a proposta de intervenção levaria a uma reconfiguração total da casa, transformando-a num elegante refúgio de fim de semana, com foco na valorização dos espaços sociais, sempre aptos a receber familiares e amigos.

No processo de concepção, salas, quartos e banheiros foram sendo constituídos ao redor de decks, varandas e janelas e não o contrário, o mais usual. Paredes foram rasgadas ou derrubadas para favorecer a apreensão da paisagem e a integração dos espaços.

As generosas aberturas ampliaram os espaços, além de ajudar a promover a ventilação cruzada em boa parte dos ambientes da casa, permitindo a presença constante da brisa que sopra do mar.

As dificuldades do terreno acabaram se tornando aliadas do projeto, fazendo com que a casa desdobrasse em meios-níveis, adequando-se ao terreno e à legislação do município.

A sala de jantar se configurou como elemento integrador, articulando os níveis superiores, de uso íntimo, com a cozinha americana, com espaços externos e com a sala de estar. A cozinha, numa concepção incomum, se debruça sobre a sala de estar, situada em nível inferior, possibilitando uma visão plena da paisagem por quem a utiliza.

O nível inferior foi totalmente destinado ao lazer, sendo constituído por decks, sauna, ofurô, área de churrasqueira, pela piscina e pelo espaço de estar que se organiza ao redor de uma lareira, permitindo a utilização da área mesmo nos frios dias do inverno.

A concepção dos jardins se constituiu num desafio à parte, uma vez que quase não havia solo para ser aproveitado, com franco predomínio das rochas. O paisagismo foi pensado então, a partir da constituição de terraços e floreiras, criando áreas favoráveis ao plantio, entremeando pequenos jardins com os blocos de rocha dominantes no terreno. Como estratégia complementar, o uso de bromélias de características variadas, que permitiram a criação de canteiros dispostos diretamente sobre as rochas.

Os jardins foram criados como elementos de intermediação entre o espaço edificado e o espaço natural que circunda a casa, proporcionando aos proprietários e aos seus convidados, ambientes que não só mantiveram, mas ampliaram as possibilidades oferecidas pela paisagem que tanto os encantou.

 

Giselle Bahiense e Leonardo Cunha

Arquitetos Titulares da Oficina de Criação de Espaços Sustentáveis (Ilhabela)

 

 

Área de Lazer

Quando deu início ao projeto de ampliação da área de lazer da Marina Igararecê – que está há 25 anos em São Sebastião e é considerada a maior e mais completa do Litoral Norte, a arquiteta Letícia Carvalho, da Zênith Iluminação e Projetos, tinha como principal objetivo criar um espaço confortável e descontraído, onde os clientes e seus convidados pudessem relaxar e se divertir antes ou depois do passeio de barco.

Aproveitando a bela vista para o Canal de São Sebastião com a Ilhabela ao fundo, a arquiteta escolheu uma área ampla bem próxima ao mar para instalar a piscina de borda infinita, com bar molhado, hidromassagem com mesinhas de apoio dentro da água, bancos e prainha com espreguiçadeiras. Pastilhas de tons diferentes demarcam estes espaços e imprimem um visual diferenciado à piscina. “A ideia é oferecer um espaço onde os clientes possam não só nadar, mas descansar, bater papo, tomar sol, beber e petiscar sem sair da água”, conta Letícia.

Para as crianças menores, foi construída uma piscina infantil com bordas largas, que servem de banco para que as mães possam ficar bem acomodadas enquanto cuidam dos pequenos.

Ao redor da piscina, mesas, cadeiras, guarda-sóis e espreguiçadeiras convidam os visitantes a curtir o sol e a paisagem, enquanto o bar e restaurante Bariga oferece petiscos, coquetéis exóticos e pratos especiais, que são servidos tanto na área de lazer quanto nos salões do restaurante, um localizado na parte interna e o outro em um amplo deck, que foi envidraçado para garantir conforto nos dias de vento, comuns na região.

Alguns detalhes chamam a atenção, como o piso de um dos acessos à área, onde foram utilizadas mais de 5000 garrafinhas de cerveja, iluminadas por balizadores de LED. Também foram construídas 2 cisternas que armazenam até 30.000 litros de água de chuva coletada das coberturas, e que é utilizada para lavar pisos e regar os jardins. A fim de integrá-las ao ambiente e dar um toque mais aconchegante, seus tampos foram revestidos com porcelanato que imita a madeira.

Esta fase da ampliação, concluída recentemente, contou ainda com o aumento do heliponto, que agora tem 400 metros quadrados, e com a construção de um moderno posto de combustível com loja de conveniência. “A construção de um posto de combustível dentro do mar é um desafio, mas optamos por implantar instalações modernas, capazes de garantir comodidade, conforto e segurança aos clientes, seguindo rigorosamente todas as normas que envolvem a atividade”, explica.

Para a iluminação das áreas novas, Letícia, que é especializada neste assunto, utilizou os modernos e versáteis LEDs nos locais onde as luzes permanecem acesas durante a noite toda, proporcionando uma redução considerável no consumo de energia. “Nas demais áreas, substituiremos a iluminação aos poucos, trocando as lâmpadas antigas por outras mais modernas à medida que deixarem de funcionar. Desta forma, o custo da iluminação LED, que ainda é alto, pode ser diluído”, completa.