No dia 3 de agosto de 1931 nasceu nas proximidades do Rio Piracicaba o artista popular Elias Rocha. Muitos anos depois passou a ser mais conhecido por “Elias dos Bonecos”, devido à atividade que marcaria de maneira indelével a sua vida e a da cidade: a confecção de bonecos de sucata em tamanho natural, muitos deles pescadores, que durante muitos anos foram instalados nas margens do rio pelo próprio artista.

A partir dos idos de 1975, quando a degradação do Rio Piracicaba atingiu índices alarmantes, os bonecos viraram símbolos da luta pela preservação ambiental. Hoje, além de habitarem a margem do rio na altura da “Casa do Povoador”, os bonecos do “Elias dos Bonecos” também estão em museus de folclore de cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba, sem contar as cidades do Vale do Médio Tietê. Alguns exemplares já foram enviados para o exterior, além de figurarem na Bienal Naifs do Brasil, promovida pelo SESC.

O espetáculo “Filho das Águas” é o primeiro da Tragatralha Cia. de Teatro. A Cia., que é constituída por experientes atores, nasceu do desejo comum de realizar um trabalho cênico aprofundado, pautado na pesquisa e no estudo da linguagem teatral. A idéia de explorar o universo do artista popular Elias Rocha partiu do diretor Carlos ABC, que entre outros prêmios, (em festivais de teatro regionais, nacionais e internacionais), recebeu 22 de melhor direção. A proposta não é traçar um relato biográfico da trajetória de Elias, finda em 1º de abril de 2008, mas, a partir de fatos marcantes da sua existência, adentrar ao mundo lúdico habitado por ele e por seus bonecos.

Uma grande colcha de retalhos serve literalmente de pano de fundo para os quatro atores, (Carla Sapuppo, Edvaldo Oliveira, Rafaela Arthuso e Raul Rozados), se revezarem na representação de mais de 20 personagens. A trilha sonora, composta especialmente para a encenação pelo poeta popular Abel Bueno, acompanhado pela viola caipira de Milo da Viola, remete à longínqua tradição do canto de improviso ou repente, que está espalhada em ricas e diferentes formas por todo o Brasil, e recebe na região do médio Tietê o nome de “Cururu”. A montagem, que consumiu um ano de pesquisa e estreou em abril de 2006, busca a riqueza do mundo de Elias não só nos seus bonecos, mas também na tradição da cultura caipira, permeada pela espiritualidade da centenária “Festa do Divino”, pela antiga brincadeira do “pau de sebo”, conhecida em outras cidades como “malhação do Judas”, pelo canto de repente do “Cururu” e principalmente, pela Rua do Porto, espaço seminal da cidade, espaço físico e espiritual de Elias Rocha, com seus moradores, sua simplicidade e beleza.

A apresentação acontece no dia 22 de agosto, às 16h, no Galpão das Artes. Em seguida, às 17h30, a companhia ministrará um workshop sobre Cultura Caipira Paulista, aberto ao público. O Galpão das Artes fica na Rua da Cocaia, nº 720 – Cocaia.