Silvana Davino entrevistou a ativista Salete Magalhães Vieira, que há mais de dez anos se dedica a cuidar de animais abandonados, doentes e vítimas de maus tratos.

Salete Magalhães Vieira é jornalista, formada em educação física. Frequenta Ilhabela há mais de 40 anos e há 13 anos mora na cidade. Preocupada com a causa animal há mais de 10 anos, é hoje presidente da Associação Protetora dos Animais de Ilhabela (APAILHA). Voluntária, trabalha diariamente na luta contra os maus-tratos dos animais, promove a “posse responsável” e batalhou pela construção do Centro de Referência Animal do município de Ilhabela.  Assume em 2017 uma cadeira de vereadora, pautada na luta pela causa animal.

Salete, como é sua rotina diária em resgatar animais abandonados, doentes ou vítimas de maus-tratos?

O dia começa antes das sete horas. Entro em ação com o leva e traz de animais que foram agendados no Centro de Referência Animal (CRA) para castração, quando os proprietários não possuem condução. Outra ação diária é ir às residências das pessoas quando os animais não são castrados ou estão doentes. Nestas visitas, dou orientações, vermífugo, uso medicação para pulgas e carrapatos. Também recolho animais de rua que correm risco de vida e cadelas não castradas para algum lar transitório e para o CRA.

O que é considerado maus-tratos? Como uma pessoa pode fazer uma denúncia? Precisa se identificar?

É considerado maus-tratos para animais domésticos a privação de alimento, água e movimentação (animais acorrentados e em pequenos espaços).  Falta de limpeza do local e do animal. A falta de assistência veterinária e atenção diária que inclui atenção e carinho. Já para os animais silvestres, maus-tratos são aprisionamento, caça, diversão alheia (rinhas) entre outros atos onde são mantidos reféns dos humanos, os quais visam diversão e lucro.

Toda denúncia gera um processo, seja administrativo na  prefeitura, seja um boletim de ocorrência na Polícia Civil, Militar ou Ibama, mas é necessário uma testemunha do  ocorrido. A Apailha pode levar à frente a denúncia, mas precisa de atos concretos, testemunha, filmes, fotos, senão não há prova do crime e o Ministério Público não pode agir. A questão, infelizmente, é que quanto menos denúncias menos punição haverá.

A Lei Municipal 658/2008 abrange a questão de maus tratos aos animais domésticos. Em Ilhabela essas denúncias são direcionadas para a Vigilância Sanitária, Apailha, Polícia Ambiental e Ministério Público.

Como tem sido aplicada a Lei de maus-tratos em Ilhabela? Alguma pessoa já foi efetivamente punida? Você já foi ameaçada?

No município houve algumas punições sim, mas como sempre penas tênues pela gravidade do ato cometido contra o animal, geralmente convertidas em multas irrisórias, basicamente dois salários mínimos, e trabalho comunitário. Isso tudo desmotiva as ações, desmoraliza a boa intenção da Lei. Enfim, a violência  contra os bichos não é só  problema legal. É imoral. Eu e a Dra Olga, médica-veterinária da prefeitura, já fomos ameaçadas inúmeras vezes.

Dentro do trabalho que a APAILHA realiza, existe algum programa de conscientização sobre a posse responsável, castração e maus-tratos? Como ele se realiza?

O trabalho de conscientização, posse responsável, castração, prevenção e combate aos maus tratos são feitos através das feirinhas de adoção, no Centro de Referência Animal com as entrevistas feitas para adoção e nas consultas veterinárias. Utilizamos a página da Apailha no Facebook e Salete Salvanimais. Faço também palestras em escolas quando convidada, onde o tema desenvolvido  é saúde animal, que está totalmente ligado à saúde pública e ambiental, mas há a necessidade de expansão desse trabalho.

Depois de mais de 10 anos de luta na causa animal, você percebe hoje alguma diferença no comportamento das pessoas em relação a este tema? Elas estão mais conscientes?

Sim, tivemos um avanço. A população consegue entender hoje  a importância da vacina v8 ou v10, da castração, da vermifugação, do acompanhamento veterinário, principalmente hoje com o atendimento  gratuito. Elas se mobilizam mais a levar os seus animais para socorros emergenciais e tratamentos.

Percebe-se essa consciência em várias situações na cidade, uma delas é o  aquecimento do mercado Pet em Ilhabela, uma cidade que no passado as pessoas matavam os animais com pauladas por estarem com bicheiras, eu mesma presenciei essa trágica realidade no Julião em 2006. Isso não quer dizer que a maldade humana não persista ainda em nossa cidade, seja com os domésticos, seja com os animais silvestres. Com estes, infelizmente, a crueldade é grande.

Assumindo o cargo público de vereadora, quais serão suas frentes de trabalho em prol dos animais?

Atuar na continuidade do serviço de controle populacional, identificação (que correlaciona o proprietário ao animal), posse responsável na adoção e manejo dos animais.

Implantar ações e parceria com os jovens nas escolas, aproximando-os mais das causas socioambientais, focando na importância do PEib (Parque Estadual de Ilhabela) com sua mata, córregos e animais que o habitam. O parque não pode ser uma área de conflito, é necessário o respeito por essas vidas e pela riqueza desta natureza.

Incrementar ações com a polícia ambiental. A falta de policiamento em ecossistemas como a nossa Ilhabela é uma dádiva para os  traficantes. A importância da fiscalização é vital para esses animais, mas para mexermos nessa  ferida crônica e termos resultados positivos, dependemos do envolvimento e pressão  das pessoas que também estão sensibilizadas com a situação.

Não vamos cruzar os braços, temos que continuar sendo os porta-vozes dos animais que não podem se defender do homem malvado.