A Congada é a maior manifestação cultural dos ilhéus, que chega aos dias de hoje mantendo muitas de suas características originais, que podem ser observadas em toda a sua organização. Esse ritual é repetido há mais de dois séculos, mantendo as falas, a música, as fardas, a representação e os toques da marimba e dos atabaques. História da Congada Por volta de 1785, o escravo Roldão Antônio de Jesus trouxe a Congada de São Benedito para Ilhabela, quando chegou da África no porão de um navio negreiro. Ele desembarcou em Castelhanos e foi vendido para a Fazenda São Mathias, no bairro da Cocaia. Devoto de São Benedito, o escravo difundiu sua crença entre os demais e deu início ao que hoje é uma das maiores riquezas culturais da cidade. Roldão era tio avô de Dna. Ana Esperança Silva, antiga chefe, junto com sua irmãs, da Ucharia – umas das tradições da Congada. Hoje sua irmã mais nova, Dna. Izanil, é quem cuida de todos os afazeres da Ucharia, junto com sua família. Todos aqueles que tomam parte na Congada o fazem por promessas suas ou de seus familiares. Os congueiros se consideram “escravos! De São Benedito, se dizem “promesseiros” e nunca se apresentam em outra ocasião a não ser a festa em homenagem ao Santo. No início da formação da Congada toda a responsabilidade era da família de Benedita Esperança, também escrava da Fazenda São Mathias. Depois essa família organizou a Confraria de São Benedito, que mais tarde foi extinta pelas autoridades religiosas. Em meados da década de 40 os padres condenaram o costume de unir a Congada à festa religiosa, proibindo a entrada dos congos na igreja. A Congada De acentuada aculturação africana bantú a congada de Ilhabela tem como cenário as ruas da Vila, e é uma apresentação teatralizada com falas, danças e cantos de uma desavença entre dois grupos que desejam festejar em honra de São Benedito. Os congos são divididos em dois grupos: Congos de Cima, que são os Fidalgos do Rei, vestem-se de azul e são considerados “cristãos”, e os Congos de Baixo, que são os congueiros do Embaixador, vestem-se de cor-de-rosa e são tidos como não batizados ou “pagãos”. Há três “bailes’ que ocorrem ao som de atabaques e marimbas de madeira. O primeiro chamado de “Roldão” ou “Macambá”, é uma cantiga dos Congos de Baixo, quando vem guerrear. O segundo é o “Alvoroço”, “Jardim das Flores” ou “Baile Grande”, onde há uma guerra bastante violenta. O terceiro baile é o “São Matheus”, onde o Embaixador é preso duas vezes. A guerra acontece porque os congueiros do Embaixador lutam para que ele, filho bastardo do Rei, conquiste o trono. Antigamente a Congada tinha dia certo para ser realizada: 3 de abril. Depois passou a acontecer no “claro” de maio, época de lua cheia, quando os pescadores não saíam para pescar, podendo assim participar ou assistir a festa. A partir de 1993 passou a ser realizada no 2º domingo de maio, como acontece até hoje. *Adriano Leite é caiçara e realiza um amplo trabalho de pesquisa sobre as tradições e a cultura de seu povo. Tem um vasto material, não só sobre a Congada, mas referente a diversas outras manifestações religiosas e culturais dos caiçaras de Ilhabela.