Registradas em várias regiões do país, as Congadas expressam as manifestações culturais dos povos bantos – termo sob o qual foram encaixadas, em um mesmo grupo lingüístico, cerca de mil línguas faladas na África. Verdadeiras encenações de teatro popular, as Congadas são compostas por cantos e danças dramáticas, que retratam a luta dos negros contra os brancos que invadiram a África em busca de escravos.

 

Documentos apontam que as primeiras Congadas celebradas no Brasil aconteceram no século XVII, encenadas por escravos que aqui desembarcaram trazendo seus deuses, suas crenças e o gosto pela dança e pela música.

 

Em Ilhabela, a Congada está presente há mais de dois séculos, e teve início com a chegada dos navios negreiros vindos da África que aportaram em Castelhanos trazendo escravos para trabalhar nas fazendas e casas de colonos. Ainda nos dias de hoje, permanece como a maior manifestação cultural dos caiçaras ilhéus, que passam de uma geração a outra o mesmo ritual, mantendo as falas, a música, as fardas, a representação, os toques das marimbas e atabaques e a devoção por São Benedito, santo ao qual o povo banto dirigiu sua fé para homenagear seus deuses ancestrais.

 

A Congada de Ilhabela é apontada como uma das mais antigas do Brasil, mantendo uma fidelidade impressionante, que resistiu a séculos de opressão, inclusive, em determinado momento da história, por parte da igreja católica. Um estudo publicado pela Revista Ângulo, da FATEA – Faculdade Integradas Teresa D’Ávila, mostra uma comparação entre as Congadas de Fortaleza, no Ceará; Goiânia, em Goiás; Cidade da Lapa, no Paraná; Osório, no Rio Grande do Sul, e a Congada de Ilhabela, e revela que “Uma comparação dos versos complexos e mais antigos dessas Congadas mostra algumas expressões idênticas, que chegam a estrofes inteiras, e a mesma estrutura dramática, desenvolvida em três partes principais, sugerindo que em algum momento, talvez entre os séculos XVII e XVIII, houve um discurso básico de Congada, cantado de norte a sul”.

 

 

A guerra entre os Congos de Cima e os Congos de Baixo

 

Em Ilhabela, a Congada ocorre sempre no “claro” de maio (época de lua cheia), e consiste na representação, com falas, danças e cantos, de uma desavença entre dois grupos devotos de São Benedito. O primeiro é formado pelos Congos de Cima, que vestem roupas azuis e são os fidalgos do Rei, considerados cristãos. O outro é formado pelos Congos de Baixo (ou Congos do Embaixador), que usam trajes vermelhos e representam os pagãos. Há três ‘bailes’ ao som de atabaques e marimbas de madeira, onde os congueiros travam suas batalhas. A guerra acontece porque os congueiros do Embaixador lutam para que ele, filho bastardo do Rei, conquiste o trono.

 

Toda a encenação se passa na Vila e o início da programação acontece sempre em uma sexta-feira, com o levantamento do Mastro, em frente à Igreja Matriz, seguido pela realização de uma missa em homenagem a São Benedito. No sábado e no domingo acontecem os “bailes” e por volta do meio-dia é feita a Ucharia, palavra que siginifica “despensa da casa real” e designa o lugar onde é servido o almoço dos congueiros e seus convidados.

 

Todos os congueiros que participam da festa em homenagem a São Benedito o fazem por motivos religiosos, como promessas pessoais ou de família e por devoção, e nunca se apresentam em outra ocasião a não ser a festa em louvor ao Santo.

 

 

Semana da Cultura Caiçara

Para preservar a tradição da Congada e de outros aspectos da cultura caiçara, a Lei Municipal nº 894/00 instituiu a criação da Semana da Cultura Caiçara, que é promovida pela Prefeitura Municipal através da Secretaria de Cultura de Ilhabela, e engloba uma série de ações voltadas a comunidade local.

A programação desse ano, que aconteceu entre os dias 14 e 20 de maio, contou com exposições artísticas e fotográficas, apresentações de dança e música, lançamento do projeto “Registro da Tradição Oral”, procissão, missas na Igreja Matriz, apresentação da Congada Mirim e os tradicionais “bailes” de Congos em homenagem a São Benedito.