No maior desafio das águas de Ilhabela, remadores e suas canoas encararam um percurso de 90 quilômetros, na emocionante prova de volta à Ilha.

A manhã do dia 2 de dezembro começou cheia de adrenalina em Ilhabela! Com várias canoas havaianas colorindo suas águas, a Praia do Itaquanduba foi o ponto de largada para a Conquista da Coroa, prova com 90 quilômetros de extensão que contorna toda a Ilha, formando o maior percurso em provas de canoagem na América Latina.

Promovida por Marcos Möller, fundador do Paddle Club Ilhabela, a competição reuniu 12 canoas OC6 e 144 atletas, que disputaram nas categorias Open, Master e Mista, representando cidades como Brasília, Espírito Santo, Salvador, Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo, São José dos Campos, Santos, Bertioga, São Sebastião e Ilhabela. “Abrimos inscrições para 10 equipes, mas a procura foi maior e realizamos a prova com 12 canoas e times de altíssimo nível, de várias partes do Brasil”.

A largada aconteceu pontualmente às 6h da manhã, saindo da praia em frente à Marina Porto Ilhabela e seguindo em direção ao sul. “Estudamos muito antes de definir o percurso da prova e decidimos largar no sentido sul para passar o quanto antes pela Ponta do Boi, normalmente o ponto mais crítico do trajeto, chegando lá com os atletas menos cansados e com melhores condições de mar e vento”, explica Marcos.

No entanto, este ano a natureza surpreendeu os remadores bem antes da Ponta do Boi. “Quando chegamos ao Buraco do Cação o mar estava do avesso. Era canoa virando, gente passando mal nos barcos… foi tenso!”, lembra o idealizador da prova. Mas para quem estava no mar, este trecho só aumentou a adrenalina da competição, e como os grupos de apoio e toda a estrutura da prova estavam muito bem organizados, o primeiro desafio foi superado e todas as equipes seguiram remando.

Contrariando a previsão e as estatísticas, a passagem pela Ponta do Boi foi mais tranquila que o Buraco do Cação, o que não quer dizer que tenha sido fácil! Longe disso: a prova foi considerada por muitos dos participantes uma das mais difíceis do Brasil. Para Gabi Latini, que integrou a equipe do Rio de Janeiro e neste ano correu a tradicionalíssima Molokai 2 Oahu, no Hawaii, a Conquista da Coroa foi a melhor prova do ano. E de acordo com Marcos Möller, “Para esta galera do remo, quanto maior o perrengue, melhor!”.

Não bastassem os obstáculos impostos pela natureza, o ritmo intenso também coloca à prova a experiência e a resistência dos remadores. Os 12 integrantes de cada equipe se revezam sem que a canoa pare. Enquanto um pula na água o outro sobe na canoa e a quantidade e momento das trocas são fundamentais na estratégia dos times. Cada canoa tem um barco de apoio, além de quatro embarcações da organização que acompanham todo o trajeto levando médico, equipe de primeiros socorros e todo o suporte necessário para garantir a segurança de todos.

Mas as ondas, os ventos, o mar bravo e o longo percurso não foram os únicos destaques da competição. Enquanto venciam cada quilômetro, os remadores tiveram a oportunidade de contemplar toda a beleza da majestosa Ilhabela, com suas águas transparentes, enormes paredões rochosos e o verde profundo da mata que, juntos, compõem cenários alucinantes. “A Conquista da Coroa reflete a filosofia dos esportes de remo, unindo atividade física, contato com a natureza, história, superação e uma energia incrível”, destaca Marcos.

A primeira equipe a completar a prova foi a Base Alpha – Open, com tempo de 7 horas e 33 minutos. Em seguida chegaram Va’a Brasília – Mista (8:13), Anamaue – Open (8:18), Kamikazes – Open (8:45’06), Paddle Club – Master (8:45’10), Paddle Club – Mista (8:47), São José – Mista (8:50), Base Alpha – Mista (8:56), Itaipu – Mista (9:17), Survivers – Mista (9:28), Guapuruvu – Mista (9:36), Pa’ahana – Mista (10:50).

Com dificuldades de desalagar a canoa no ponto mais crítico do percurso, a equipe Pa’ahana precisou ser rebocada por alguns metros e por isso foi desclassificada. Mesmo assim, o time de guerreiros decidiu completar a volta a Ilha e ao terminar a prova foi homenageado pelas outras equipes. “O legal do remo é que, embora a conquista do primeiro lugar seja importante, a maior vitória é completar o trajeto, superar seus limites e vencer desafios”, completa Möller.

Esta foi a segunda edição da Conquista da Coroa, que no ano passado foi realizada pela primeira vez no modelo de competição, apenas com equipes da região, com o objetivo de testar o formato para em seguida projetar um evento maior. Com o sucesso conquistado em 2017, os organizadores já estão se programando para a prova de 2018, que deve crescer ainda mais, atrair equipes de fora do país e entrar para o calendário internacional do remo.

O clube anuncia que também já está trabalhando em outros projetos, como a possibilidade de transformar a prova deste ano em um documentário para um canal de TV, além de desenvolver outras provas e eventos que devem fortalecer ainda mais o esporte na região. Vem novidade por aí!

A segunda edição da Conquista da Coroa contou com o apoio da Prefeitura de Ilhabela, que forneceu todo o suporte logístico à competição, Náutica Ilhabela, que desenhou e forneceu as camisetas, Ballena Beach Bar, que sediou a cerimônia de premiação, Marina Porto Ilhabela e Paddle Club Ilhabela, que disponibilizaram toda a estrutura para a realização do evento.

 

Paddle Club – do Hawaii para Ilhabela

DSC_2871Pioneiro na região em esportes de remo e, especialmente, em canoa havaiana, o Paddle Club instalado na Marina Porto Ilhabela nasceu da forte ligação que a família Möller tem com o mar. Marcos e sua irmã, Andrea Möller, cresceram em Ilhabela e sempre estiveram ligados aos esportes náuticos. Enquanto ele escolheu a Vela e depois de ganhar experiência nas raias da Ilha deu a volta ao mundo em um veleiro, ela sempre preferiu os esportes radicais: aos 18 anos foi morar no Havaí, onde foi a primeira mulher a surfar ondas gigantes. Atualmente, coleciona títulos como o de Campeã Mundial de Canoa Havaiana OC6 e de Stand Up Paddle na categoria Downwind e é considerada uma das maiores Waterwomans do planeta!

Em uma das visitas anuais que faz a Ilhabela para visitar a família, Andrea trouxe um remo de presente para o irmão e contou com entusiasmo suas experiências no Havaí com o Stand Up Paddle e com a Canoa Havaiana. O presente despertou em Marcos e sua esposa, Luciana Möller, o interesse por este universo “Quando as primeiras pranchas de Stand Up Paddle chegaram ao Brasil trouxemos algumas para a Marina e começamos a remar. Em pouco tempo amigos e familiares se interessaram pelo esporte e foi assim que nasceu o Paddle Club. Os amigos começaram a trazer amigos, investimos em estrutura e equipamentos e hoje temos um grande número de remadores fixos”, conta o casal. Algum tempo depois, eles trouxeram para cá a primeira canoa havaiana e a história se repetiu: a modalidade atraiu a atenção de moradores e visitantes, o clube investiu na aquisição de novas canoas, equipamentos e estrutura e desde então o esporte não pára de crescer por aqui.

O sucesso da Conquista da Coroa é uma prova disso. “Desde que começamos a remar, dar a volta na Ilha é um objetivo. Fizemos o percurso pela primeira vez em 2015. No ano seguinte, testamos uma prova em formato de competição. Aperfeiçoamos a proposta e neste ano conseguimos concretizar o projeto, que mostra o imenso potencial de Ilhabela para este tipo de evento”, conclui Marcos Möller.