A medicina que atua na área do trabalho reconhece de longa data que dentre outras variáveis o esforço repetitivo é um agente lesivo. O que dizer de esforços repetitivos na área da preparação física? Penso que a situação é semelhante.

 Analisando as ofertas de atividades presentes nos programas de treinamento e mesmo em reabilitação de lesões constatei que praticamente não existe situação em que os movimentos não sejam repetitivos. Até onde pesquisei, pelo menos.

As atividades mais comuns são: caminhada, corrida, natação, ciclismo e aqui na ilha a prancha em que a pessoa rema estando em pé. Em termos de exercícios os mais comuns são a musculação, os exercícios ditos localizados e outras propostas onde a pessoa se movimenta estando em aparelhos estacionados. Mesmo quando a bola suíça é utilizada as pessoas estão transportando para a bola a prática dos exercícios localizados.

Quando o esforço é repetitivo as áreas de pressão dentro das articulações são sempre as mesmas não havendo, portanto, períodos de descanso. Como conseqüência, nestas zonas de solicitação constantes e praticamente invariáveis haverá desgaste tecidual favorecendo o aparecimento de lesões. Outro detalhe importante a considerar é que tecidos biológicos (músculos, tendões, ligamentos, ossos, pele, etc.) são estruturalmente organizados de acordo com a direção e a velocidade em que os movimentos são realizados. Em movimentos repetitivos como nas atividades e exercícios acima citados esta organização estrutural é unidirecional (em uma direção) sendo, portanto, ineficiente quando a demanda de movimentos é pluridirecional. Um exemplo desta situação é a ocorrência de lesões em pessoas que treinam desta forma e no fim de semana resolvem participar de uma “pelada” de futebol, ou enfrentar uma trilha acidentada com os amigos.

 Provavelmente, está seja uma das razões (esforços repetitivos) para o aumento estatístico de lesões articulares nos últimos anos, pois o fenômeno me parece semelhante ao encontrado pela medicina do trabalho nos diagnósticos de LER/DORT.

Sugestões

A proposta é variar os tipos de atividades.  Um dia você caminha e de preferência mude constantemente os tipos de piso. Aqui é fácil, vá da calçada para a areia da praia, para a grama e se quiser ter mais benefícios faça tudo isto descalço. Outro dia você faz natação, no outro corre, em outro pedala e assim por diante. Em se tratando de exercícios, faça como crianças brincando: corra, salte, escale, pendure, empurre, puxe, role, faça cambalhotas, suba em arvores (com cuidado para não quebrar galhos ou arrancar folhas) enfim, divirta-se.

Bons treinos!

 


 

 *José Augusto Menegatti é Professor de educação física formado pela Universidade de São Paulo. Foi preparador físico da equipe de voleibol masculina do Esporte Clube Banespa e da Seleção Brasileira. Durante 30 anos de trabalho com o esporte desenvolveu técnicas com resultados rápidos e eficientes. Um destes trabalhos começou em 1989 quando iniciou seus estudos sobre o Rolfing. Hoje como professor e instrutor formado pelo Rolfing Institute (Boulder, Colorado, USA) possui um Núcleo de Estudos em Fluência Corporal em Ilhabela/SP, que oferece cursos, aulas e sessões para pessoas interessadas na sofisticação de sua corporalidade, e para profissionais da área da educação e saúde interessados em aprimorar sua proposta de trabalho. Para saber mais: contato@espacojera.com.br / (12) 3896-1135