Criada através de uma Lei Municipal de autoria do Professor Catolé, à época vereador e hoje Secretário de Cultura de Ilhabela, a Semana da Cultura Caiçara chega este ano a sua 9ª edição, mantendo seu objetivo de preservar e fortalecer as tradições do povo caiçara.
Promovido pela Secretaria da Cultura, o evento se integra as atividades da Congada, e tem em sua programação exposições, apresentação de vídeos, apresentações musicais, teatro, dança, culinária, quermesse da tradicional Festa de São Benedito, e este ano contará com um seminário com o tema “Cultura Caiçara dialogando com as culturas caipira e nordestina”, com a presença de especialistas da área.
Outra novidade desta edição será a interação entre a cultura caiçara, que representa os primeiros povos que habitaram o arquipélago, com as culturas dos povos que migraram para a região ao longo dos anos, como os caipiras e os nordestinos. Para promover o diálogo entre estas culturas, a Secretaria de Cultura e a Fundaci (Fundação Arte e Cultura de Ilhabela) realizará, através de diversas apresentações musicais e artísticas, um encontro entre agentes culturais, artistas, turistas e moradores.
Como acontece na maioria das cidades do litoral brasileiro, graças a influência do turismo e da migração, as tradições e manifestações culturais perderam força através do tempo, o que trouxe a necessidade de desenvolver um trabalho de resgate e conscientização. A Semana da Cultura Caiçara tem o objetivo de contribuir para a valorização da cultura de Ilhabela, incentivando a pesquisa, o registro e a disseminação do modo de vida caiçara, possibilitando que a comunidade perceba seu pertencimento e co-responsabilidade na manutenção do saber tradicional e da cultura local.
Congada e Festa de São Benedito
A devoção a São Benedito chegou a Ilhabela a bordo dos navios negreiros, que traziam escravos para trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar e café. Além de suas crenças, os escravos africanos trouxeram o gosto de dança e pela música, e deram origem às primeiras apresentações da Congada, que acontece por aqui há mais de duzentos anos e hoje é considerada a mais importante manifestação da cultural popular da região.
Mais que uma representação folclórica ou cultural, a Congada é uma manifestação religiosa, e por isso é feita apenas uma vez por ano, no período de lua cheia, época que os caiçaras chama de “claro de maio”.
Em uma espécie de encenação teatral à céu aberto, a apresentação tem falas, danças e cantos que contam a história de uma desavença entre dois grupos devotos de São Benedito. O primeiro é formado pelos Congos de Cima, que vestem roupas azuis e são os fidalgos do Rei, considerados cristãos. O outro é formado pelos Congos de Baixo (ou Congos do Embaixador), que usam trajes vermelhos e representam os pagãos. Há três ‘bailes’ ao som de atabaques e marimbas de madeira, onde os congueiros travam suas batalhas. A guerra acontece porque os congueiros do Embaixador lutam para que ele, filho bastardo do Rei, conquiste o trono.
A apresentação acontece nas ruas da Vila e a programação acontece sempre em uma sexta-feira, com o levantamento do Mastro, em frente à Igreja Matriz, seguido pela realização de uma missa em homenagem a São Benedito. No sábado e no domingo acontecem os “bailes de congos” e por volta do meio-dia é realizada Ucharia, palavra que siginifica “despensa da casa real” e designa o lugar onde é servido o almoço dos congueiros e seus convidados.
Congada Mirim
Para garantir a continuidade da Congada através das próximas gerações, a Secretaria da Cultura promove a Congada Mirim, encenada por pequenos caiçaras, filhos ou netos de congueiros, que tem a oportunidade de aprender a importância da cultura e da história de seus ancestrais e assumem a responsabilidade de levá-las adiante.
A apresentação dos pequenos congueiros aconteceu após o levantamento do mastro de São Benedito, atividade que marca o início das comemorações da Congada, seguida pela distribuição do Bolo de São Benedito, em frente a Igreja Matriz.