O que você diria se visse em um filme um senhor de mais ou menos 70 anos de idade, aparência distinta, vestindo um terno completamente roxo? Acreditaria haver uma pessoa irreverente por trás daqueles cabelos brancos? Pouco provável… não é? Pois foi exatamente o que espantou a todos que assistiram ao vídeo da festa de quinze anos de uma prima, e aquele senhor distinto por acaso era meu pai. As pessoas vinham me perguntar com estranheza se ele estava mesmo de terno roxo e eu, também espantada, respondia que o tal terno não era roxo e sim azul, num tom que definiria talvez como “azul noite” (um pouco acinzentado e bem mais escuro que o marinho).

 

Mas a grande pergunta é: Por quê a cor se modificou? E quantas outras cores se modificam ao ser fotografadas ou filmadas?

 

Rosas brancas aparecem amarelas, aquela maquiagem que era para ficar em tons de terra ficou estranhamente avermelhada, a parede pistache parece marrom e o cabelo loiro ganhou um toque de verde… Afinal qual é o mistério?

 

A resposta está na luz, esta aliada tão próxima, de uso tão corriqueiro, que às vezes pode ser um tanto traiçoeira, principalmente para os profissionais da arquitetura e do design. E é por isso que hoje em dia os fabricantes de lâmpadas e luminárias desenvolvem as mais sofisticadas pesquisas a fim de nos oferecer uma gama enorme de produtos com os quais somos capazes de explorar aquilo que a luz nos proporciona de melhor: poder “brincar” com ela.

 

Uma iluminação bem projetada é capaz de transformar um ambiente, dar-lhe uma identidade, acentuar contrastes, revelar formas, realçar detalhes e texturas, enfim, aguçar os sentidos e criar emoções.

 

Atualmente existem no mercado os mais diversos tipos de lâmpadas, com variações de formato, potência, consumo, abertura de facho, etc. Porém existem duas características de fundamental importância quando se quer trabalhar com a cor: é a temperatura de cor da própria lâmpada e seu índice de reprodução de cor, o IRC.

 

A temperatura de cor é medida em graus Kelvin (K) e expressa a aparência de cor da luz emitida pela fonte luminosa, variando entre 2700 e 6500K para as lâmpadas existentes hoje no mercado. Quanto mais elevado for o valor, mais branca será a luz e quanto mais baixo, mais amarelado será seu tom. Para se ter uma idéia melhor ai vão alguns exemplos:

 

Luz de vela: 1900K

Lâmpada incandescente comum: 2800K

Lâmpada mista-160W: 3600K

Lâmpada fluorescente luz do dia: 5100K

 

Em locais de descanso como dormitórios e áreas sociais ou salas de estar e de TV, é aconselhável o uso de fontes em torno de 3500K, que emitem luz mais suave levando ao relaxamento e ao aconchego. Já em ambientes de trabalho e áreas como cozinhas, por exemplo, o uso de fontes mais claras, em torno de 5000K, é mais indicado, pois estas induzem a maior atividade cerebral.

 

O outro fator determinante na escolha da luz apropriada ao ambiente é o índice de reprodução de cor ou IRC, que determina com que fidelidade as cores são reproduzidas quando expostas a determinada fonte de luz.

 

As lâmpadas incandescentes e halógenas são muito eficientes neste aspecto, tendo IRC=100, valor máximo admitido. Já nas fluorescentes compactas, o IRC gira em torno de 80 e as fluorescentes tubulares podem ter IRC variando entre 65 e 95, dependendo do tipo e da marca. Algumas lâmpadas são completamente inapropriadas para reproduzirem bem as cores, é o caso da de vapor de sódio, utilizada na iluminação pública, que tem IRC=25.

 

Em residências o IRC deve estar acima de 80, de forma a garantir conforto aos usuários e, ao mesmo tempo, realçar a beleza dos ambientes. Já em espaços comerciais, principalmente nas vitrines, devemos utilizar lâmpadas com IRC o mais próximo de 100, a fim de valorizar os produtos expostos.

 

Com a introdução de produtos de maior qualidade no mercado, a forma de iluminar mudou e hoje podemos criar espaços mais versáteis, com mais recursos visuais e com muito mais economia de energia.

 

*Letícia Carvalho é arquiteta, iluminadora e proprietária da Zenith Iluminação e Projetos.