Fascinantes por natureza, baleias e golfinhos sempre despertaram a atenção e o entusiasmo dos humanos e ter a oportunidade de avistar estes animais em seu habitat natural, nadando livremente em pequenos ou grandes bandos, é uma experiência inesquecível, que tem sido relatada com frequência por moradores e visitantes que passeiam pelas águas de Ilhabela. De grande relevância para a conservação de diversas espécies, a região abriga desde residentes, como o Boto Cinza, que está o ano inteiro por aqui, a Baleia de Bryde e os Golfinhos Pintado e Nariz de Garrafa, também registrados com frequência, até animais em rota migratória, como as Baleias Franca e Jubarte. De acordo com a Bióloga Silvana Braga, responsável pelo Projeto de Conservação de Cetáceos de Ilhabela, mantido pelo Instituto Dharma, no caso das espécies que realizam grandes migrações, como a Baleia Jubarte (Megapteranovaengliae) e a Baleia Franca (Eubalaena australis), o arquipélago de Ilhabela está inserido em sua rota de migração. Essas espécies se alimentam nas regiões polares e vem para águas tropicais para se reproduzir e criar seus filhotes, por isso passam por nossa região todos os anos. Já no caso das outras espécies que ocorrem, como o Golfinho-de-dentes-rugosos (stenobredanensis), o Golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiopstruncatus), o Golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella frontalis) e a Baleia-de-bryde (Balaenopteraedeni), Silvana explica que embora as pesquisas do projeto ainda não tenham dados conclusivos sobre os motivos exatos que os mantêm por aqui, alimentação, reprodução e cria de filhotes também são fatores prováveis para a incidência. Quanto ao aumento do registro destes animais por pessoas que navegam pela região, a Oceanógrafa Shirley Pacheco de Souza, que por vários anos coordenou o Projeto SOS Mamíferos Marinhos no Litoral Norte, esclarece que sempre houve abundância de espécies e que o fato de mais pessoas relatarem avistagens não significa, necessariamente, que o número de espécies ou populações aumentou. “Hoje as pessoas têm mais acesso às embarcações e todo mundo tem uma câmera fotográfica, o que facilita o registro e sua divulgação”, lembra. Juntando isso à facilidade de disseminar informações através das redes sociais, o resultado é um aumento significativo destes registros. “Embora não haja estudos conclusivos sobre o aumento do número de cetáceos na região, mesmo porque para este tipo de conclusão são necessários anos de acompanhamento, com identificação dos animais e monitoramento constante dos grupos, o fato de tantas pessoas relatarem atualmente estas avistagens mostra a importância da região para a conservação dessas espécies”, conclui Shirley. Cetáceos no Brasil De acordo com dados fornecidos pelo LABCMA – Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Aquáticos, mantido pelo Instituto Oceanográfico da USP, até junho de 2013 foi registrada a incidência de 46 espécies de cetáceos (grupo taxonômico que inclui as baleias e os golfinhos ou botos) ao longo de toda a extensão litorânea do Brasil, assim como nas águas da Bacia Amazônica. Grande parte destas espécies foi notificada entre uma e algumas centenas de vezes, principalmente em encalhes nas praias brasileiras. Outras espécies têm presença notável ao longo de todos os meses do ano em determinadas regiões. Há ainda aquelas que ocorrem na costa brasileira em apenas alguns meses do ano, quando frequentam as regiões costeiras protegidas em busca de paz para a reprodução. As espécies mais comuns são Baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae); Baleia-franca (Eubalaena australis); Baleia-de-Bryde (Balaenoptera edeni); Baleia-minke-comum (Balaenoptera acutorostrata); Boto-cinza (Sotalia guianensis); Toninha ou Franciscana (Pontoporia blainvillei); Golfinho-rotador (Stenella longirostris); Golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus); Golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella frontalis); Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis); Orca (Orcinus orca); Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis); Golfinho-comum-de-rostro-longo (Delphinus capensis). Boto ou Golfinho O LABCMA também esclarece uma dúvida muito comum entre os apreciadores desses fascinantes mamíferos. “Muitas pessoas ficam intrigadas se existem diferenças entre golfinhos e botos. Explicações envolvendo a ocorrência de golfinhos para a água salgada e dos botos para a água doce são as mais comuns. Entretanto, não existem diferenças anatômicas para separar golfinhos de botos. Este é um caso que envolve terminologias regionais e não características de anatomia ou fisiologia. Em um país de grandes dimensões territoriais como o Brasil, é comum que alguns termos ganhem força de uso em determinadas regiões e, com o tempo, passem a reverenciar um objeto, animal ou planta que, em outras regiões do país são referidos com outro termo. Os exemplos mais fáceis de lembrarmos são os semáforos de trânsito, também chamados de faróis, sinais ou sinaleiras. A mandioca, típica de muitos pratos da família brasileira, também chamada de macaxeira ou de aipim. A mexerica é também conhecida como tangerina ou bergamota. O mesmo ocorre com os termos golfinho e boto. Neste último caso, tradicionalmente procura-se seguir as comunidades caiçaras. Ao longo da costa brasileira é comum que pescadores chamem de “botos” os animais semelhantes aos golfinhos que tradicionalmente conhecemos, e que são encontrados apenas nas proximidades da costa. Aqueles que são encontrados em águas afastadas da costa são chamados de “golfinhos”. O mais curioso nisso tudo é que os pescadores conseguem distinguir as diferentes espécies de golfinhos da costa brasileira pelo local onde elas podem ser encontradas. Por exemplo, o boto-cinza (Sotalia guianensis) pode ser encontrado desde Santa Catarina até o Amapá, ao longo de praticamente todo o litoral brasileiro. Como são encontrados próximos à costa, são chamados de botos. O golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), o famoso Flipper do seriado de TV, tem distribuição em águas costeiras de Santa Catarina ao Rio Grande do Sul. Nessas regiões, o golfinho-nariz-de-garrafa é chamado de boto. Por outro lado, a partir de Santa Catarina, até o nordeste brasileiro, esta espécie ocupa águas mais afastadas da costa. Nestas outras regiões, é conhecido como golfinho ou caldeirão, em função de sua coloração cinza-escura. Portanto, é comum seguirmos esta padronização de terminologia caiçara”. Fonte: www.soltalia.com.br Regras básicas de avistagem Avistar uma baleia ou um bando de golfinhos é, sem dúvida, uma experiência emocionante. No entanto, algumas regras básicas são fundamentais para garantir a sua segurança e a dos animais, para que você possa aproveitar o privilégio sem causar nenhuma interferência ou impacto afinal, você está na casa deles e é seu dever respeitá-los e cuidar para que permaneçam saudáveis e tranquilos em seu habitat. A Bióloga Silvana Braga explica que, além de evitar qualquer tipo de poluição do ambiente marinho, é fundamental respeitar o espaço dos animais, principalmente quando estamos embarcados, pois a aproximação feita de maneira indevida pode ocasionar acidentes ou stress, afastando esses animais do local no momento em que eles poderiam estar realizando alguma atividade essencial do seu cotidiano. Nunca alimente os animais nem tente se aproximar demais. Aproveite a avistagem a uma distância segura para você e confortável para eles. E lembre-se: tanto os cetáceos quanto as tartarugas marinhas são protegidas por leis ambientais e o não cumprimento das mesmas está sujeito a penalidades legais (no mínimo 6 meses de reclusão ou multas). No Brasil há também uma lei, desde 1987, que proíbe a natação com cetáceos. Essa lei protege os animais de stress e de possíveis doenças, pois tanto os humanos quanto os animais podem transmitir doenças e, consequentemente, no caso dos cetáceos e tartarugas, debilitar toda uma população em função de um contato desnecessário com um ser humano. Colabore com as pesquisas para a preservação dos cetáceos Através do Projeto de Conservação dos Cetáceos de Ilhabela, o Instituto Dharma pretende consolidar o levantamento dos cetáceos que ocorrem na região e manter o monitoramento constante destas espécies, com o objetivo de coletar e divulgar dados consistentes que reafirmem a importância da preservação da região para a manutenção do equilíbrio ambiental. “Os cetáceos são animais de topo de cadeia alimentar, assim são reguladores de ecossistemas e podem ser indicadores de qualidade de habitat. A diminuição da ocorrência dessas espécies em determinada região pode ser um indicador de que o ambiente marinho não está em equilíbrio. Sendo assim, é de fundamental importância para os cetáceos e todos os animais que ocorrem na região, manter o meio ambiente estável, diminuindo a poluição química e sonora, respeitando os períodos de defeso de pesca, além de monitorar, entender e diminuir os impactos das atividades antrópicas, para que todos nós possamos viver em harmonia e equilíbrio”, ressalta Silvana Braga. Moradores e visitantes que quiserem contribuir com o projeto podem enviar fotos ou vídeos de suas avistagem acompanhados pela data, local, horário e, se possível, coordenadas geográficas. Basta enviar um e-mail para: projetoconservacaodecetaceosilhabela@hotmail.com Parque Municipal Marinho O arquipélago de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, quer se transformar no primeiro parque municipal marinho brasileiro. A proposta é aproveitar a existência de um santuário ecológico, criado por meio de decreto em 1992, para proteger uma área de aproximadamente um quilômetro e meio de extensão, entre a Ilha das Cabras – já protegida pelo Parque Estadual de Ilhabela, até a Praia do Portinho, no lado sul da ilha. Segundo o especialista em biologia marinha Marcello Casoni, o local sofre com a falta de regulamentação à legislação federal vigente, que contempla a criação de unidades de preservação, conhecidas como Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). “Com essa adequação, o local não correria o risco de sofrer danos permanentes pela pesca ilegal, lixo marinho e a falta de fiscalização. E é exatamente este o motivo pelo qual estamos trabalhando para a regulamentação do primeiro parque municipal marinho do Brasil”, explica Casoni, biólogo do Instituto Dharma. Ele ressalta que atualmente existem dois parques semelhantes, o Parque Municipal Marinho de Paripueira, em Alagoas, criado especificamente para preservação do peixe-boi marinho, e o Parque Municipal de Ilhéus, na Bahia, concebido para preservar o peixe mero, uma espécie ameaçada de extinção e que é vista em Ilhabela. “Mas com a adequação, Ilhabela oficialmente será o primeiro parque municipal marinho brasileiro para a conservação de várias espécies, já que o de Paripueira foi criado em 1993 e o de Ilhéus em 2006. A oficialização será retroativa ao decreto municipal, assinado em 1992”. Plano de manejo – Para a adequação, o instituto vem mantendo contatos com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que deverá, por sua vez, tentar a regulamentação no Ministério do Meio Ambiente. “Haverá necessidade de se realizar um plano de manejo que norteará a utilização do parque, criando critérios que deverão ser observados, como definição dos locais de visitação, áreas específicas para atracação ou circulação de embarcações, delimitações para uso de redes de pescas, entre outras observações”. Segundo o biólogo, o plano de manejo auxiliará também na conservação da Praia do Portinho, que é procurada pelas tartarugas marinhas que encontram ali uma área de alimentação rica em algas marinhas. “O custo para o plano de manejo é baixo, já que a área é bem pequena. Na verdade, servirá como uma atualização de dados, já que o Instituto Dharma, em parceria com diversos pesquisadores da USP, Unicamp , Univap e Universidade de Taubaté que atuam no santuário, já vem realizando esse levantamento há alguns anos”, frisou Casoni. O santuário ecológico marinho de Ilhabela também é visto como uma área de transbordo, especialmente na Praia do Portinho. Por conta da conservação do local, a população de espécies marinhas cresce e acaba migrando para o seu entorno. “O santuário é rico em fauna e flora marinha e as tartarugas marinhas são a grande atração dos visitantes”, ressalta o biólogo. Turistas que frequentam as praias da Ilha das Cabras e Portinho têm a oportunidade de observar variadas espécies de peixes. Segundo Casoni, parte das tartarugas que surgem mortas em Ilhabela morre por inanição, provocada pela grande quantidade de sacos plásticos ingeridos por esses animais marinhos. “Elas consomem lixo jogados pelo homem ao mar, já que não sabem diferenciar um saco plástico de águas vivas, por exemplo”. Contato com a natureza – O menino Igor Blanco de Moraes, de 8 anos, alimentava peixinhos coloridos na beira da Praia das Pedras Miúdas, com miolo de pão. “Esse paraíso precisa ser preservado de qualquer forma. Não é em qualquer lugar que temos um contato tão direto com a natureza marinha, que parece que vem até a gente para nos brindar e agradecer por não interferimos em seu habitat natural”, disse a mãe de Igor, a publicitária Bruna Blanco de Moraes, 29 anos. Segundo Casoni, será necessário criar mecanismos de conscientização aos pescadores artesanais para que não pesquem no local, prática já proibida pelo decreto municipal que criou o santuário. Ele acredita que com a regulamentação do parque nestes moldes, a fauna e a flora marinha do local serão conservados, fiscalizados e utilizados para fins de visitação pública, além da pesquisa científica. Instituto Dharma – O Instituto Dharma é responsável pelo Projeto de Conservação de Cetáceos e pelo Projeto Tartarugas Marinhas de Ilhabela – Seguras em Paz”, que realiza um levantamento da biota marinha local e o monitoramento das espécies que frequentam o santuário. Enquanto o parque municipal não é criado, a ONG informou que irá promover ações de sensibilização com os moradores do entorno e criar oficinas de educação ambiental. “A ideia é enaltecer a importância da regulamentação do santuário e a sua consequente conservação, que poderá gerar benefícios a todos com o turismo e a conservação atuando lado a lado”, observou o biólogo.