Você lembra qual foi a última vez que levantou os braços e alcançou algo para se pendurar?

 

Pois é, a maioria das pessoas não lembra! Esta ação tão prazerosa para as crianças praticamente desapareceu no contexto social urbano moderno. Adolescentes e adultos, em nossa experiência, demonstram grande dificuldade para realizar esta habilidade.  Aliado a esta ineficiência, somam-se atividades em que as pessoas passam muito tempo com os braços posicionados em flexão como ao digitar num teclado, num celular, tablet, etc., ou apoiados sobre algo numa organização desfavorável e com um nível de tensão exagerada na área de ombros e pescoço.

 

Esses hábitos posturais estão comprometendo a organização postural, as pessoas estão com os ombros arredondados para frente mudando a posição da escápula, com a cabeça também projetada à frente, fora do alinhamento com a coluna, o que impossibilita levantar os braços em sua amplitude normal.

 

*foto de uma pessoa desorganizada (se couber)

 

ANTIGAMENTE

Lembram-se dos parquinhos antigos onde havia aquela escada horizontal, o trepa-trepa e as cordas para se balançar? Tiraram tudo e dizem que é pela segurança das crianças! Esta atitude comprometeu seriamente o desenvolvimento morfoestrutural humano.

 

Durante o desenvolvimento, crianças livres realizam diversas ações como rastejar, engatinhar, pendurar, lançar, arremessar, “plantar bananeira”, fazer “estrela”, todas elas contribuem para uma estrutura organizada e forte.

 

Relações importantes entre as funções de mastigação, deglutição, respiração e fala são dependentes da estabilidade e mobilidade dos ombros, dos braços, das mãos, assim como a organização eficiente do tronco.

 

BRAQUIAÇÃO

O desenvolvimento humano é dependente da maturação neurológica e o sinal desta maturação é a habilidade bimanual. A eficiência na habilidade de se deslocar pendurado (braquiar) é o sinal de que esta maturação aconteceu e o mais importante, deve ser mantida.

 

*foto braquiação

 

LIMITAÇÕES QUE LEVAM A DOR

Os braços nos permitem movimentos variados, na área dos ombros passam vasos sanguíneos e nervos que precisam estar “livres” para que a funcionalidade não seja prejudicada. Com a diminuição dos movimentos no dia a dia essa área vai ficando comprometida, ficando compactada, gerando restrições de movimentos que acabam provocando dor e limitando ainda mais o movimento dos braços. Com isso a pessoa cria compensações para continuar realizando atividades como lavar o cabelo, escovar os dentes, vestir uma blusa, entre outras. O resultado a longo prazo são as chamadas Síndrome do Impacto, Ombro Congelado, Bursites, e mais algumas que eu poderia continuar citando.

 

O QUE FAZER

Muitos exercícios propostos pela Educação Física, por exemplo, priorizam movimentações segmentadas de flexão e extensão, abdução e adução, rotação interna e externa. Mas para mantermos uma estrutura saudável é necessária uma combinação dessas movimentações em diferentes ações para manter a estabilidade e amplitudes articulares e a capacidade de gerar força estabilizadora de movimentação eficiente.

 

Dica

Comece se pendurando mantendo os pés no chão, SEM SUSTENTAR O PESO. Inicie com 15-20 segundos várias vezes ao dia. Pode ser num galho de árvore, numa barra e até mesmo em uma porta. Experimente!

 

*foto pendurando

 

Bons treinos!

 

José Augusto Menegatti e Carla Lee

*José Augusto Menegatti é Professor de educação física formado pela Universidade de São Paulo. Foi preparador físico da equipe de voleibol masculina do Esporte Clube Banespa e da Seleção Brasileira. Durante 40 anos de trabalho com o esporte desenvolveu técnicas com resultados rápidos e eficientes. Um destes trabalhos começou em 1989 quando iniciou seus estudos sobre o Rolfing. Possui um Núcleo de Estudos em Fluência Corporal em Ilhabela/SP, onde oferece grupos de estudos, aulas e sessões de Rolfing para pessoas interessadas. Para saber mais: contato@menegatti.com.br / (12) 3896-1135.