Na edição de número 58 desta revista já escrevemos sobre os fogos de artifícios e os inúmeros prejuízos que eles podem causar para os seres humanos (¹), animais domésticos (²), fauna silvestre (³) e os impactos negativos no meio ambiente (⁴).

Esse assunto despertou a atenção de muita gente e começou a ser mais debatido. Houve uma maior conscientização dos malefícios trazidos pela prática de soltar fogos com estampidos. Nos últimos anos, várias cidades do Brasil e alguns municípios de São Paulo abraçaram esta causa, como Bauru, Campinas, Botucatu, Piracicaba, Suzano, São Paulo, Santos, Ubatuba, São Sebastião e a própria Ilhabela.

Alguns anos atrás, atendendo aos anseios da sociedade civil de Ilhabela, a Prefeitura suspendeu as queimas de fogos nas despedidas dos navios de cruzeiro. Em 2016, foi apresentado pelo Vereador Sampaio o primeiro projeto de lei que restringia a soltura de fogos com estampido, mas o plenário da Câmara não aprovou. Em 2017, a sociedade civil se manifestou novamente apresentando um abaixo-assinado solicitando a proibição dos fogos com estampido em toda Ilhabela. Poucos meses depois foi realizada uma audiência pública na Câmara Municipal, onde a vereadora Salete Salvaanimais apresentou um novo projeto de lei com a proibição total da soltura de fogos com estampido, que acabou sendo aprovado com ressalvas, mantendo a autorização para quatro eventos religiosos e culturais de Ilhabela que ocorrem ao longo do ano, vigorando esta proibição para o próximo Réveillon.

Porém, essa batalha não terminou. A Associação Brasileira de Pirotecnia (Assobrapi) tem travado algumas batalhas jurídicas com alguns municípios como o de Ilhabela, São Sebastião e Santos querendo suspender as leis que proíbem a fabricação, a comercialização e queima de fogos que emitam estampidos.

Discutir o uso de fogos de artifício envolve questões ambientais, éticas, de saúde e, como não poderiam faltar, as econômicas. É uma causa que prevê o bem estar do planeta como um todo. Deve haver maior conscientização que shows pirotécnicos não podem ser realizados próximos a áreas de preservação ambiental, pois além do impacto para avifauna existe o risco de incêndios.

No debate sobre esta mudança, aspectos históricos e culturais devem ser sempre levados em consideração, entretanto a cultura não é imutável. Diversas formas de manifestação podem ser repensadas. Deve ser encontrado um equilíbrio entre a tradição e o cuidado com todos os tipos de vida. O Brasil pode ser pioneiro de uma civilização ecologicamente sustentável, dispensando totalmente esse tipo de comemoração ou substituindo-a por fogos silenciosos.

Apesar do grande passo dado no município de Ilhabela, a divulgação precisa ser mais eficaz, pois muitas pessoas não tem conhecimento desta nova lei e continuam a soltar fogos em suas celebrações. É preciso divulgar através de folhetos distribuídos na balsa, nas rádios locais, nas mídias sociais, faixas em locais estratégicos e solicitar aos proprietários de todos os meios de hospedagem que notifiquem seus hóspedes.
Opções para não soltar fogos não faltam. Já existem substitutos à altura, alguns muito melhores: shows com águas dançantes luminosas acompanhando o ritmo da música; luzes de laser projetando imagens nos céus ou em edifícios; balões coloridos e biodegradáveis soltos aos milhares. A mais nova tecnologia consiste na utilização de vários drones com luzes led com apresentações de efeitos visuais no céu, ainda mais brilhantes e impressionantes.

(¹) Prejuízos causados nos seres humanos:

Fogos de artifício são tóxicos para os seres humanos. Eles produzem fumaça e poeira que contém vários metais pesados, compostos de enxofre, carvão e outros produtos químicos nocivos. Muitos acidentes, alguns fatais, acontecem na fabricação, manipulação e soltura dos fogos. Os estampidos produzidos podem ser devastadores para crianças, idosos e doentes mentais.

 

(²)Prejuízos causados nos domésticos:

Como a audição nos cães é muito mais acurada que a humana, a explosão de fogos de artifício para animais domésticos é torturador. Cães latem em desespero, podem sofrer mutilações, ter parada cardiorrespiratória, convulsões , traumas com mudanças comportamentais. Os gatos podem ter taquicardia, salivação, tremores e fugirem do seu lar.

 

 

(³)Prejuízos causados na Fauna Silvestre:

Os animais silvestres e selvagens, que vivem soltos na natureza também sofrem. Ao tentarem fugir ficam estressados e desorientados e, se chocam contra obstáculos, aves abandonam ninhos, pais perdem seus filhotes, alguns tem morte súbita. Existem fortes evidências dos efeitos negativos dos fogos de artifício, apesar da dificuldade de realizar estudos que mensurem os impactos sobre a avifauna e estudar o comportamento das aves à noite, no escuro.

 

(⁴) Impactos negativos no meio ambiente:

Poluição ambiental é outro efeito que costuma ser ignorado. Tanto o processo de fabricação dos fogos como a sua queima liberam percloratos. São milhares de partículas de dióxido de carbono espalhadas pelo ar aumentando as emissões nocivas para a atmosfera, contribuem para a contaminação da água de abastecimento e para a chuva ácida, poluem cursos d’água e o solo.

 

 

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