Partimos!!! Dia 10 de dezembro, conforme planejado, com apenas uma hora e meia de atraso em função de amigos que chegavam de São Paulo para se despedir de nós, zarpamos. Muitas pessoas queridas estiveram na praia, entre amigos e parentes, da Ilha e de São Paulo, para se despedir de nós. As crianças do colégio e a professora Luciana nos trouxeram uma mensagem importantíssima para um barco e para a vida: “Não tenham problemas, tenham soluções!”. Vários amigos chegavam com presentes (que estamos usando direto no barco) para a viagem. Mas, após os últimos preparativos e embarques de objetos pessoais, chegou a hora de zarparmos, pois eu queria chegar de dia em Ubatuba. As despedidas não foram fáceis e cada abraço foi emocionante. Os amigos soltaram nosso cabo amarrado em terra e um vento forte de sudoeste nos obrigou a rizar (diminuir) a vela mestra ainda na poita, mas nos empurrou com vontade para nosso primeiro destino: praia do Flamengo, em Ubatuba. Na Ponta das Canas encontramos um evento da família Schurmann e nos despedimos deles e dos amigos que estavam trabalhando no evento por rádio.

Passamos duas semanas em Ubatuba, que conheço muito bem, e essa parada foi muito importante. Nela começamos a viver a bordo em um lugar conhecido e seguro, entre amigos que lá vivem ou foram nos visitar. Fizemos vários passeios na região, alguns já conhecidos e alguns que nem eu havia feito. Visitamos o Aquário de Ubatuba, Projeto Tamar, Ilha Anchieta, fizemos trilhas na Ilha Anchieta e na praia de Sete Fontes entre outros.

As crianças se acostumaram logo com a nova vida (essa era uma preocupação minha) e com as novas atividades num barco. Fazer navegação, dirigir e manobrar o barco, levantar âncora, pegar e soltar o barco de poitas, colocar defensas passaram a ser seu dia-a-dia. Outras tarefas como cozinhar, lavar roupa, lavar louça, pendurar roupas para secar, fazer cama, que não faziam em casa, passaram a ser rotineiras para eles também. Conhecer novos lugares, saber se virar, saber perguntar, saber respeitar as pessoas e regras, foi se tornando normal, sem perder seu encanto.

Os mergulhos e o conhecimento da vida marinha são constantes para eles. Cada dia um novo ser marinho é descoberto e visto de perto: grandes estrelas-do-mar, filhotes de lula, lesmas-do-mar, golfinhos, etc. foram avistados e tocados. Da mesma forma, muito lixo foi encontrado no mar e, sempre que possível, recolhido.

Após a estada de adaptação em Ubatuba e o Natal em São Paulo com a família, fomos descobrir o litoral norte de Ubatuba. Uma janela de tempo nos permitiu ir despreocupados e pudemos conhecer a ilha de Prumirim (maravilhosa!), praia do Almada e ilha das Couves (que eu já conhecia e é fantástica). Foram dias de muito mergulho, muito sol e muitos lugares bonitos.

O Reveillon se aproximava e havíamos marcado encontro com minha namorada e sua irmã em Parati. Elas iriam passar 12 dias conosco. Saímos então das Couves e fomos para Parati, onde uma linda e simpática marina nos acolheu (local que é nossa base na região, indo para os passeios e voltando para reabastecer e descansar nela).

Parati é um lugar maravilhoso para se morar embarcado. É sempre tranqüilo, protegido e todos os lugares são maravilhosos para se passear. Outra vantagem é a proximidade de Angra dos Reis e Ilha Grande. Além disso, a cidade é lindíssima e temos toda a estrutura náutica necessária. Vimos vários barcos de Ilhabela por aqui: o nosso eterno concorrente “Armação”, da amiga Valéria; o vizinho de poita “Vadio”, entre outros, passando as férias de janeiro.

Passamos nosso reveillon na enseada de Jurumirim, onde o Amyr Klink tem casa e de onde sempre parte para suas viagens. Foi um reveillon tranqüilo e alegre. Aconteceram muitas brincadeiras dentro e fora da água. O Jonas e a Carol esculpiram um barquinho com uma vela para colocar na água na virada do ano (o “Yemanjá”) que, junto com o tradicional “molhar os pés” de reveillon (a Carol tomou um banho completo), muitos beijos, abraços e uma gostosa ceia fizeram nossa virada de ano especial. Após o reveillon, fizemos passeios na cidade de Parati, ilha da Cotia, ilha Rasa, Parati-Mirim, Saco do Mamanguá e outros, sempre com muita beleza, alegria e disposição.

Todos estamos muito bem. As crianças, mesmo com as saudades dos amigos e parentes tem feito novos amigos nos lugares onde paramos e aguardam ansiosas as visitas que tem acontecido. Todo o trabalho do barco tem se transformado em diversão e eles ficam felizes e orgulhosos com as novas habilidades. 

É claro que houveram alguns pequenos problemas durante a viagem e quem está acompanhando os diários sabe, mas foram superados com boas “soluções”. E aos poucos eles vão aprendendo que fazer mal feito significa ter que fazer de novo, para resolver problemas é necessário ser inventivo e a preguiça não leva a nada.

Vamos vivendo nosso sonho: trabalho, problemas e soluções fazem parte da nossa vida diária. Mas ao mesmo tempo temos natureza, beleza, curiosidade e amor. E, como diz o Jonas, assim vamos levando essa “vidinha mais ou menos”.