O começo de nosso 2006 foi todo dedicado à baia de Ilha Grande. Isso foi planejado em função dos meses de verão não serem propícios para subir a costa brasileira velejando, em virtude de fortes ventos e correntes de nordeste, que acontecem nessa época, tornarem uma tentativa de subida da costa um verdadeiro martírio.

Mas, esperar a época certa por aqui, é um verdadeiro prazer. Esta maravilhosa baia, que abriga as cidades de Paraty, Angra dos Reis e a própria Ilha Grande é uma tentação aos turistas e cruzeiristas. O difícil é sair daqui! Com ótimas marinas para todos os níveis financeiros, lugares fantasticamente belos em ancoragens protegidas, muitos passeios em terra e a bela cidade colonial de Paraty, dá um certo peso no coração dizer “adeus” ao lugar.

Fora tudo isso, ainda tivemos muitas mordomias quando estávamos na marina: carro na “porta”, marina com píer, piscina, etc. Até estrutura para fazer uma cirurgia de siso inesperada eu encontrei em Paraty. Fizemos, também, vários amigos na região, com os quais não pretendemos perder contato: a Berê, de Parati; o Sérgio, esposa e a pequena Déborah do veleiro “El Shaday”; o Pedro, o Robertinho e seus pais de São Paulo; vários amigos da marina e velejadores, que encontraremos em outros portos certamente. 

Esta também foi uma época de muitas visitas. Com a proximidade de São Paulo e de Ilhabela, vários amigos e parentes deram-nos o prazer de suas visitas. Sempre procurávamos levá-los aos lugares mais bonitos (o que era difícil escolher) e mais fáceis para cada um, respeitando estarem acostumados ou não ao barco. Foram finais de semana e feriados muito divertidos onde, além de matarmos saudades, ainda recebemos a promessa de visitas em outros dos nossos destinos.

Começaram também as aulas e, aquilo que eu achava que se tornaria meu suplício, está sendo fonte de muito conhecimento e divertimento. É incrível como a viagem e o estudo estão se completando. Carolina está estudando fusos horários, posicionamento global (latitude e longitude) e pontos cardeais em geografia. Jonas está estudando classificação dos seres vivos em ciências (começou até a fazer fichas de classificação de animais que estamos encontrando pelo caminho). A importância do inglês está sendo ressaltada pelo encontro com vários turistas estrangeiros aqui em Paraty. O português é usado dia-a-dia em nossos diários. Em matemática, Jonas está estudando números negativos e está muito fácil exemplificar usando navegação. São dezenas de vezes que usamos o que eles viram como exemplo nos estudos e vice-versa.

Desse “estudo aplicado”, resultou uma excelente visita às usinas nucleares Angra I e Angra II. Lá eles aprenderam sobre fissão nuclear e todo o processo de geração de energia elétrica da usina (muito interessante e uma obra-prima de engenharia). Aprenderam também o tempo que os resíduos da usina irão manter sua radiatividade: 3.000 anos. Depois de terem visto pequenas usinas hidrelétricas e painéis solares gerando energia através do sol e da água sem poluí-los, em muitos dos lugares que visitamos, a nossa conversa de “conclusão” sobre geração de energia limpa foi fantástica.

O medo da Carol de perder o contato com os amigos da Ilha se encerrou com o começo das aulas. A classe toda escreveu para ela, que respondeu todos os e-mail’s com muita alegria. Ela também aproveitou uma lição de português que ensinava como escrever um cartão postal e enviou um para a escola. A Marina e a Bruna, amigas inseparáveis, escrevem sempre e ela aguarda ansiosamente cada e-mail, contando dos novos colegas e casos da escola.

Fizemos também uma lindíssima visita à ilha da Marambaia, ao lado de Ilha Grande, onde fica o Centro de Adestramento da Marinha (CADIM). Foi com muito gosto que vimos como o local, além de belíssimo, é muito bem cuidado. Fomos recebidos de braços abertos, conhecemos uma parte da ilha e só tivemos pena do tempo de visita ter sido tão curto. Ficou aberto o convite: na volta da viagem dar mais uma paradinha na ilha.

Os lugares que mais gostamos na região foram: Ilha Grande, belíssima, onde ainda ficaremos alguns dias antes de seguir para a cidade do Rio de Janeiro; Jurumirim, onde passamos dias e noites inesquecíveis, numa tranqüilidade total que quase fazia o tempo parar; ilha da Marambaia, com sua natureza e beleza totalmente preservadas e com o excelente cuidado que lhe estão dispensando; Paraty, com seus casarões coloniais, onde tudo é bonito e onde tive a melhor falta de luz de minha vida (imaginem Paraty colonial iluminada apenas pela lua cheia!).

Porém, nesta baia maravilhosa existe um perigo: muitos velejadores já vieram, pararam e ficaram por aqui! De várias pessoas escutamos: “Cuidado para não se acomodar!”. De outros: “Porque vocês não ficam por aqui mais algum tempo?”. No momento que estou escrevendo este artigo, estamos em plena arrumação do barco para seguir viagem e conhecer novos lugares. Apesar das belezas locais, o coração pede mais. Pede novos lugares, novas pessoas, novas paisagens. Pede aventuras e novos seres marinhos. Pede história de nosso povo. Pede mais cultura. Pede mais conhecimento. É a nossa época de descobrimento. Descobrimento deste lindo e maravilhoso Brasil, que aguça nossa curiosidade e imaginação em cada conversa com outros velejadores, dissipando assim a acomodação e preguiça que possam querer se instalar em nós e fazendo com que sigamos sempre em frente.